Carta de João Pulido Valente ao CMLP

João Pulido Valente

Carta ao CMLP

 

3/8/1966

Caros Amigos

Só agora tive oportunidade de contactar com vocês. Há aproximadamente um mês que fui transferido para Caxias. Durante esse tempo inteirei-me do comportamento perante a polícia de todos os camaradas presos, tendo actualmente um conhecimento profundo do comportamento dos camaradas mais responsáveis. Continuar a ler

Carta ao CMLP no exterior

Francisco Martins Rodrigues

Lisboa, 27/1/1966

Camaradas:

Recebemos a carta 1/66 e os fundos que indicam. Estamos a tratar de levantar a encomenda na morada indicada. Aproveitamos este portador para tratar detalhadamente algumas questões urgentes. Continuar a ler

Cartas a JV – 1

Francisco Martins Rodrigues

Carta a JV – 1

2/7/1988

Caro Amigo:

Obrigado pela sua carta de 16 de Maio. Li com muito interesse o seu artigo na “Temps Modernes” e tomei a liberdade de publicar um extracto na última “Política Operária”. Envio, por correio separado, um exemplar da revista, assim como alguns números atrasados, onde se tratam temas que pensei lhe possam interessar.

Acredito, como diz, que nos coloquemos em terrenos políticos diferentes e que lhe seja estranha a perspectiva de militância comunista que anima o colectivo da “Política Operária”. Mas verifico pelo seu artigo que temos em comum a preocupação de uma crítica social levada até às últimas consequências, no espírito do marxismo. Foi precisamente a consciência de que estávamos a deixar perder as inesgotáveis potencialidades críticas do marxismo que nos levou a fundar esta revista. Sei que pouco fizemos até agora, mas aprendemos pelo menos a enfrentar sem medo os fenómenos novos que lançaram a confusão no campo dos marxismos “oficiais”. O problema dos regimes pseudo-socialistas e das causas da sua evolução tem-nos preocupado pnrticularmente e temos avançado algumas tentativas de interpretação. Hoje já não fazem sentido para nós as polémicas pró ou contra Staline, Trotsky, etc. Vemos sim o afundamento inevitável de um projecto de socialismo, condenado por não dispor do seu alicerce necessário – o poder real dos trabalhadores, “mil vezes mais democrático do que a mais democrática república burguesa”. Acreditamos que a ressaca reaccionária causada pelo fracasso dessa experiência (na URSS, na China, etc,) acabará por ser superada e que novas tentativas, mais avançados, virão repor a dinâmica do processo histórico, agora obscurecida.

Cabe-nos remar contra a maré das renegações e manter agrupado um núcleo crítico e revolucionário, por mínimo que seja. Digo-lhe que o espectáculo da rendição incondicional, aqui no nosso país, é dos mais baixos que se possam imaginar. Apetece zurzir, nem que seja só para termos a certeza de que estamos vivos.

Espero poder ler mais trabalhos seus. E que me dê, com toda a franqueza, as impressões que lhe deixam os que aí lhe mando.

Com as minhas melhores saudações

Cartas a HN – 17

Francisco Martins Rodrigues

Carta a HN – 17

9/2/2002

Velho H

Tenho aqui duas cartas tuas recentes e vou tentar responder às questões que colocas e dar-te algumas notícias.

Teu artigo – Parece-me extenso mas ainda não tive oportunidade de o estudar. Vou ler e dir-te-ei depois o que penso.

Curso de marxismo em Bruxelas – O MV já me falou com interesse desse curso onde esteve há dois anos, julgo. Leio aqui o jornal desse partido, que é de facto radical, dentro da área dos “revisas duros”, muito mais consistente por exemplo do que o Avante do meu amigo Cunhal. De qualquer modo, sendo claramente anti-imperialistas, não temos dúvidas de que são reformistas e que têm uma ideia muito sinistra do que seja o socialismo. Isso basta para sabermos que não são do nosso campo. Terá interesse o curso? Eu, se tivesse disponibilidade, ia assistir, pela curiosidade de ver como expõem as questões centrais do marxismo e até para activar as objecções e críticas do nosso lado. Nesta época de deserto quase total no campo do marxismo, tudo o que proporcione debate e luta de ideias pode ser frutuoso. Era bem bom se tu ou o Manuel, ou os dois, redigirem um comentário sobre o que viram, o que vos pareceu aceitável e o que acham errado, etc. Era uma boa malha para a PO. Agora tu é que verás se compensa a deslocação, a despesa e o tempo gasto.

Voz do Trabalho – São naturais as tuas preocupações com o andamento do projecto. De facto, as coisas têm patinado um bocado, houve uma doença e ausência do M (já voltou), afastamento (temporário?) dos elementos ligados ao Bloco de Esquerda e que se meteram a fundo na campanha eleitoral deles (e agora já estão metidos noutra) e uma certa indefinição sobre o carácter da folha, com discussões sobre se devia ser mais política ou mais dedicada às lutas económicas.

Por tudo isto a correspondência, os envios do jornal, etc., têm andado um bocado ao deus-dará. Saiu em Dezembro o n° 4 (que pelos vistos não recebeste) e está a sair o n° 5. Vou fal ar com eles para transmitir as tuas preocupações e pedir que te enviem exemplares do 4 e do 5.

Af, Leo – Numa reunião de redacção da PO, em Novembro, foram feitas algumas criticas a artigos que eles tinham escrito: o do Leo sobre o 11 de Setembro, e o do Af sobre um subsídio de Natal igual para todos. Os camaradas reagiram mal às críticas e não quiseram alterar os artigos. Depois disso não vieram a mais reuniões. Lamentamos e esperamos que reconsiderem. São poucos os que participam no colectivo e não gostamos de ver camaradas afastarem-se mas não podemos prescindir de discutir abertamente as colaborações de cada um.

 Entrevista Argentina – É pena que não se consiga. Como verás na PO 83, que aí chegará dentro de uma semana, juntámos um comentário vindo do Brasil com um artigo que a Ana fez a partir de textos que nos chegaram pela Internet. O assunto ainda talvez mereça mais análise na próxima PO.

(…)

Leituras – Não conheço nenhum dos dois livros que estás a ler sobre a I Internacional e o movimento operário francês. Também não prevejo tão cedo disponibilidade para me dedicar ao assunto. São tantos os livros, artigos, etc. que vão ficando para trás que às vezes desespero, mas sou obrigado a fazer opções todos os dias entre o que gostaria e o que posso fazer.

PO – Vais recebê-la por estes dias. Tem uma declaração do colectivo sobre as eleições, justificando por que não votamos, a política que vai ser seguida já está feita pelas “instâncias superiores”    e os partidos  são  os comissários políticos ás ordens de Bruxelas. A possibilidade de mudança não está no voto, está na intervenção directa dos trabalhadores, e essa é que tem faltado de há bastantes anos para cá, etc.

Galiza – Nos dias 13-15 Fevereiro reúne-se na Galiza uma Cimeira dos ministros da Justiça e do Interior da UE para tratar da “segurança”. Os camaradas galegos do NÓS Unidade Popular (que vieram ao nosso encontro de Dezembro) organizam uma contracimeira nos mesmos dias, com debates e manifestações. Vão estar presentes 2 ou 3 camaradas nossos para intervir no terceiro dia, sobre questões laborais. Mando-te aqui o último número que recebemos do jornal do partido ML deles, para teres uma ideia. São pelo menos bastante activos.

Por agora é tudo. Um abraço e até breve  

Cartas a HN – 16

Francisco Martins Rodrigues

Carta a HN – 16

25/9/2001

Caro Camarada:

Os acontecimentos estrondosos de 11 de Setembro puseram tudo em polvorosa, aí como aqui, certamente. E a P.O. também foi fortemente abalada, porque tivemos que nos pôr a escrever à pressa sobre as lições a tirar do que se passou e de que modo vai afectar a nossa actividade futura. Estamos a esforçar-nos por não deixar atrasar a saída da revista, que espero seja em meados de Outubro. Resulta daqui que uma boa parte dos materiais que estavam para entrar tiveram que ser metidos em carteira, entre eles o teu artigo.

De resto, eu estava para te escrever acerca do artigo, porque nos pareceu (não só a mim) que precisa de alguma reformulação. Estou inteiramente de acordo com a tese central que defendes – a urgência de uma educação política e filosófica do proletariado para que este tome consciência do poço em que está metido e se lance numa luta não só estreitamente económica mas sobretudo política e organizada em Partido – mas isto está dito de uma forma pesada, abstracta, demasiado alongada, que não convida o leitor a chegar até ao fim. Numa palavra, os poucos argumentos que desenvolves não correspondem à extensão do texto. Por isso te propomos que trabalhes o artigo um pouco mais, para publicação futura, ou, se isso não te for possível de imediato, que abordes outro tema. De uma maneira geral, acho que deverias escolher exemplos, casos concretos como ponto de partida para a tese que queres defender. É isso que desperta o interesse do leitor e lhe permite captar a mensagem que queres transmitir.

Sei que não levarás a mal esta crítica, já nos conhecemos o suficiente para trocar ideias em perfeita franqueza. Pelas razões já atrás expostas, o capítulo do Tom Thomas que te deste ao trabalho de traduzir também não será publicado, ao menos por agora. Falas na possibilidade de uma entrevista a uma camarada: manda a cassete quando quiseres. Quanto à “Voz do Trabalho”, está a dar os primeiros passos e, por agora, a preocupação principal é conseguir que a criança não morra à nascença. Todo o apoio ou divulgação que possas dar será bom, pois o núcleo redactorial luta com grandes dificuldades.

Trabalhos práticos: 1) Dirigimos uma carta ao Bloco, UDP, PSR, FER, MRPP e outros grupos da esquerda propondo um encontro urgente para se formar um comité unitário capaz de fazer agitação contra o assalto americano em preparação contra os árabes; não estamos optimistas quanto a respostas porque andam todos empenhados na porcaria das eleições autárquicas e não lhes sobeja tempo para se ocuparem de casos “menores” como este; além disso, receiam queimar-se como “extremistas” e perder votos nas eleições. A esta miséria chegou a esquerda.

2)      Estamos a convocar uma reunião de pessoas mais próximas de nós para ver se lançamos esse tal comité, mesmo que não envolva partidos. Será a 13 de Outubro.

3)      Dia 28 de Setembro vamos a uma concentração promovida pelo Conselho da Paz (revisa) frente à embaixada de Israel. Vamos a ver se aparecer gente. Os revisas, pelo mesmo motivo dos outros, estão encolhidos. Além disso, a sua crise interna tem-se agravado e estão com dificuldades de mobilização. Há em Lisboa uma luta acirrada entre os cunhalistas e o sector intelectual.

4)      Projectamos fazer em Novembro um encontro pelo aniversário da P.O., que gostaríamos de transformar num encontro anual de debate da nossa corrente. Já começámos a fazer convites mas por enquanto não sabemos o que se vai conseguir. O tema central, claro, teria que ser este do “antiterrorismo” dos maiores terroristas que já houve à face da terra, os americanos.

De tudo te darei mais notícias à medida que as coisas se confirmarem. Caro camarada, um abraço e votos de saúde  

Cartas a JM – 3

 

Francisco Martins Rodrigues

Carta a JM – 3

24/5/1986

Camarada:

Respondemos à tua carta de 3/3 que recebemos com muito atraso porque tinha ido para a Rua de São Tomé, donde já saímos há uns meses. Mudámo-nos para uma casa maior, mas onde trabalha exclusivamente a nossa empresa gráfica. Deves por isso dirigir toda a correspondência a (…).

Também nós lamentamos muito o atraso em estabelecermos um contacto mais estreito. Quando o ZB esteve aí a trabalhar no Verão, mandámos um telegrama para a tua antiga morada a propor um encontro, mas veio devolvido com a indicação de “desconhecido”. O B chegou a procurar-te lá mas não conseguiu nenhuma informação a teu respeito. De modo que ficámos à espera que desses notícias. Actualmente, o B já regressou e a possibilidade de contacto entre nós será precisamente nas tuas férias, se te deslocares a Portugal. Seria muito importante conseguir discutir um bocado.

Tínhamos inicialmente a nossa 3ª Assembleia anual marcada para 27/28 de Junho, mas devido ao período eleitoral que se aproxima e que vai exigir de nós algum esforço, resolvemos adiá-la para Outubro. Não será por isso viável a tua participação na assembleia (supomos que vens em Agosto?) mas isso não impedirá de fazermos umas reuniões de debate, conheceres uns tantos camaradas e aperceberes-te melhor da situação por cá, do que é a OCPO e do que andamos a fazer. As condições de trabalho para uma força comunista revolucionária são neste momento péssimas em Portugal, devido ao ambiente de desmoralização que atravessa o movimento operário e a debandada reformista geral, que também já mina as fileiras do PC(R) e UDP. Cá vamos resistindo e tentando abrir espaço, baseados no debate teórico da PO e nalguma actividade sindical. O que é importante é não darmos o flanco a tendências de capitulação e aguentarmos o tempo que for preciso até a onda virar. Penso que temos um núcleo capaz de aguentar e furar.

Tudo isto teremos que discutir calmamente para tu saberes até onde deve ir a tua ligação à OCPO e o que poderás fazer em apoio deste projecto. É claro que o ideal seria tu fixares-te aqui em Portugal mas possivelmente não terás segurança de emprego. Assuntos para discutir, diz-nos rapidamente quando pensas chegar aqui e como nos poderemos encontrar. Um sítio aonde te poderás dirigir é à empresa, na Rua Frof. Sousa da Câmara, 166, Lis- boa (às Amoreiras-Campolide). Se houver desencontro, deverás ligar para … (empresa) ou para minha casa, …. Quanto aos materiais que pedes, fizemos seguir uma encomenda que já deves ter recebido, com factura junta. O valor do teu cheque foi de 5.520$00. Da “Tribuna Comunista” só enviámos o nº 9, com as resoluções da 2ª Assembleia; como os outros tratam de questões internas, não achámos bom enviá-los pelo correio. Poderas lê-los aqui, assim como obteres toda a informação sobre a nossa vida. Quanto ao jornal “Tribuna Operária”, não registámos a assinatura que pedes porque tem por enquanto uma saída irregular. Está agora para sair um nº que te enviaremos.

Enviamos junto um manifesto que distribuímos aqui e a que alguns jornais se referiram, propondo uma coligação eleitoral de esquerda. Não tivemos força para aglutinar os pequenos grupos de esquerda nesta coligação, como seria de prever. Os revisas, assim que souberam das negociações, trataram de ganhar um dos grupos (trotskista) oferecendo-lhe lugar nas suas listas; os outros dispersaram-se, por sectarismo de grupo e rivalidades, mas fundamentalmente por recearem aparecer a disputar publicamente espaço à esquerda do PCP. Enfim, estamos muito crus em todos os sentidos e somos ainda muito poucos para dar batalha a sério ao reformismo. Mas estamos na brecha.

No plano internacional, temos contacto com alguns partidos e grupos comunistas que romperam ou estão a romper com a corrente albanesa, cada vez mais amorfa. Contudo, também nessa frente as perspectivas são de uma luta prolongada, com poucas vitórias e curto prazo.

É tudo por agora. Ficamos a espera de notícias tuas, e sobretudo que nos apareças por aí um dia destes para discutirmos um bom bocado. Um grande abraço

 

PS – Se passares em Paris, poderias contactar o MV (conheces?). Mora na (…) Paris.

 

Carta a CF – 3

Francisco Martins Rodrigues

Cartasa CF – 3

14/6/1989

Caro Amigo:

Obrigado pela sua boa carta. Creio que não tem dúvida de que a minha proposta para uma eventual colaboração sua na P.O. não teve outro objectivo do que animar o debate entre revolucionários, para tentarmos sair do impasse a que chegámos (não no terreno da acção de mascas mas no terreno dos programas politicos). Nós na P.O., pelo facto de nos considerarmos marxistas-leninistas, não pretendemos ter respostas feitas para a crise actual. Sabemos sim algumas perguntas a que é necessário encontrar resposta. Já ê alguma coisa…

No que se refere aos movimentos nos países de Leste, sou mais pessimista do que V. Acho que se enquadram num renascimento da democracia burguesa. Pode ser que daqui a uns anos dêem um salto e redescubram a luta pelo socialismo mas, para já…

Após receber a sua carta verifiquei que, por lapso, a encomenda com as revistas já tinha sido enviada para a sua morada. Recebeu-a? Aceite as minhas saudações

Cartas a JC – 2

Francisco Martins Rodrigues

Carta a JC – 2

24/5/1987

Camarada J:

Tenho estranhado não ter recebido mais notícias tuas depois da carta que te mandei em 26 de Fevereiro. Não sei se se deve a afazeres da tua vida ou se chegaste a conclusão de que não estás disponível para colaborar ou apoiar o projecto da “Política Operária”.

Na carta anterior perguntava-te se pensavas vir a férias a Portugal e se haveria oportunidade de nos encontrarmos. Esse seria o melhor meio de restabelecermos contacto e trocarmos ideias. Peço que me informes a este respeito e que, de qualquer forma, escrevas umas linhas a dizer como vai a tua vida e perspectivas de actividade.

Mando junto um manifesto que difundimos aqui e que foi noticiado nalguns jornais. Infelizmente a nossa proposta [de frente eleitoral] não se pôde concretizar. Víamos nela uma ocasião de por algumas forças de esquerda a falar na televisão e a dizer umas verdades. Ê claro que da parte da UDP não esperávamos resposta, mas nos outros grupos também houve muito sectarismo e também infiltrações do PCP, que acabou por convidar um desses grupos (Esquerda Revolucionária – trotskista) para as suas listas. Enfim, o velho jogo. De qualquer forma, continuamos a fazer força para afirmar a existência de uma corrente de verdadeira esquerda e ganhar algumas pontas no movimento operário.

Escreve, dá notícias e diz se pensas vir cá nas férias.

Um grande abraço

Cartas a JC – 1

Francisco Martins Rodrigues

Carta a LC – 1

26/2/1987

Caro J:

Claro que me lembro de ti e tive grande satisfação em receber a tua carta, por ver que não perdeste o norte, apesar destes anos de pausa, Quando se esteve envolvido na luta de classes, directa e brutal, sem disfarces, como foi o nosso caso no tempo da Pide, é muito difícil iludirmo-nos com histórias sobre a “importância de cada um viver a sua vida”. Viver a nossa vida, plenamente, é trabalhar por virar esta organização social, porque é isso que os tempos pedem. Ninguém pode escolher a época da sua vida e a nossa época tem esse problema em aberto, que lhe havemos de fazer? Se lhe virarmos costas, não nos libertamos de nada, estaremos apenas a desperdiçar a nossa vida. É por isso que eu não sinto a militância comunista como um sacrifício: faço aquilo de que realmente gosto e que me faz sentir vivo. Já há gente demais reduzida ao papel de joguetes cegos do capital, não tenho vontade nenhuma de lhe seguir o exemplo.

É claro que os nossos velhos planos de batalha estavam cheios de erros e isso contribuiu para muitas derrotas e para a actual fase de dispersão. Mas não serve de nada cairmos por isso no pessimismo e na amargura, lamentar “os anos perdidos”, como por aí se faz agora. A revolução é uma longa aprendizagem, não há outra forma de descobrir o caminho.

Se passares os olhos pelos números já publicados da nossa revista, verás as interrogações que nos colocamos e as respostas que procuramos. No eixo de tudo vejo esta ideia: a corrente ML revoltou-se com a passagem dos revisas para o campo da burguesia, mas teve medo de levar a crítica até ao fim e tentou salvar um pouco do compromisso operário-pequeno-burguês, que já vinha muito de trás. Foi um corte a 50%, que tentou combinar as ideias revolucionárias com um bocado da herança reformista. Por isso nos era impossível explicar a União Soviética de Staline, a IC, o maoísmo, a luta de classes em Portugal e no mundo. Por isso nos agarrávamos a citações e fórmulas feitas em vez de olharmos abertamente o presente e o passado com olhos marxistas. É muito estimulante poder fazê-lo agora. No “Anti-Dimitrov” (… poderá arranjar-to) comecei essa reflexão, que ainda está nos primeiros passos e que prosseguimos na revista.

Já deves saber pelo (…) o que somos: um pequeno grupo de propaganda que procura lançar as bases para um programa comunista e para um partido comunista, combinando a teoria e a prática. Edita- mos a revista, que é o nosso esforço principal, mas também vamos intervindo na acção política e sindical. (Começámos a publicar um pequeno jornal sindical, a “Tribuna Operária”). As condições actuais no nosso país não são nada favoráveis a este esforço, porque o movimento operário está amachucado pela derrota das ilusões de Abril (Povo-MFA) e a pequena burguesia intelectual atravessa uma fase de carreirismo, cinismo e descrença absoluta na classe operária. Mas isto não nos impede de reagrupar um núcleo de vanguarda que passe ao ataque quando a conjuntura mudar e possa formar uma corrente sólida capaz de influir nos acontecimentos.

No plano internacional, não descuramos nenhum contacto com grupos que se orientem num sentido semelhante ao nosso e já temos relações com comunistas dos EUA, Irão, Brasil, França, Itália. Todos fracos como nós, excepto os do Irão, mas todos dispostos a limpar o marxismo-leninismo de lixos reformistas. No que se refere à OCML de França, estamos interessados em conhecer melhor as suas análises e o seu percurso e encaramos a hipótese de uma deslocação minha a Paris para um debate organizado. Vamos estudar esses números da “Cause du Communisme” que mos envias, só conhecemos o “Partisan”, que recebemos regularmente.

Inteiramente de acordo em que publiquem artigos traduzidos da “PO”, o que aliás já lhes propusemos. Podes pois dar-lhes a tradução que fizeste para que eles corrijam a ortografia e mesmo suprimam partes que lhes pareçam de menos interesse para o leitor francês. Seguem junto as notas que pediste[i]. Publicámos no nº 8 da “PO” uma tradução condensada de um artigo do “Partisan”, seria bom mostrar-lhes. Mais importante que tudo: gostaria que te informasses junto do MV sobre o que é a OCPO, que criámos há cerca de dois anos e que nos dissesses em que aspectos estás interessado em colaborar. Ele pode dar-te diversos documentos, para teres uma ideia do que pretendemos e como funcionamos. Conheces “Para a história de uma cisão”? Ê um conjunto de cartas de diversos camaradas em que estão resumidas as razões da nossa ruptura com o PC(R). Também lhe podes pedir o Manifesto inicial da OCPO e outros documentos.

Para além da nossa correspondência, que espero se mantenha, seria muito bom termos uma discussão directa. Como a minha ida a Paris está por enquanto indefinida, seria muito bom se pudesses vir cá (em Junho seria o ideal). Diz-me como pensas que poderás colaborar na nossa actividade.

Uma forma de apoiares a revista, além da tradução de artigos, será enviares-nos algumas colaborações ou materiais para artigos, fazeres uma assinatura, angariares assinantes. Lutamos com grandes dificuldades financeiras, como calculas.

E por agora é tudo. Fico à espera de notícias tuas. Aceita um abraço do camarada

[i] NOTAS

Carlos Brito – líder parlamentar do PCP revisionista.

FP-25 (Forças Populares 25 de Abril) – grupo clandestino inspi rado nas ideias do “poder popular de base” que nos últimos 6 anos praticou uma série de atentados contra capitalistas, latifundiários, contra a NATO, etc. Desmantelado pela polícia, os seus activistas estão e ser julgados como “terroristas”, junta- mente com Otelo Saraiva de Carvalho, acusado de ser o “mentor” da organização.

ORA (Organização Revolução Armada) – grupo dissidente das FP-25 surgido em 1986 e que pretende dar continuidade às acções armadas “excitativas”.

SIS (Serviço de Informações de Segurança) – embrião de uma nova polícia política, que tem na chefia um colaborador da antiga PIDE de Salazar.

FAP (Frente de Acção Popular) – primeiro grupo maoista surgido em Portugal em 1964, de tendência guerrilheirista. Destruído pela polícia em 1966.

LUAR (Liga de União e Acção Revolucionária) – grupo armado surgido em 1968, liderado por socialistas radicais. Dissolveu-se algum tempo depois do 25 de Abril.

ARA (Acção Revolucionária Armada) – destacamento criado pelo PCP em 1970, levou a cabo atentados e sabotagens à guerra colonial.

BR (Brigadas Revolucionárias) – braço armado do PRP (Partido Revolucionário do Proletariado), de tendência anarquizante, actuaram no início dos anos 70.

 

[1] NOTAS

Carlos Brito – líder parlamentar do PCP revisionista.

FP-25 (Forças Populares 25 de Abril) – grupo clandestino inspi rado nas ideias do “poder popular de base” que nos últimos 6 anos praticou uma série de atentados contra capitalistas, latifundiários, contra a NATO, etc. Desmantelado pela polícia, os seus activistas estão e ser julgados como “terroristas”, junta- mente com Otelo Saraiva de Carvalho, acusado de ser o “mentor” da organização.

ORA (Organização Revolução Armada) – grupo dissidente das FP-25 surgido em 1986 e que pretende dar continuidade às acções armadas “excitativas”.

SIS (Serviço de Informações de Segurança) – embrião de uma nova polícia política, que tem na chefia um colaborador da antiga PIDE de Salazar.

FAP (Frente de Acção Popular) – primeiro grupo maoista surgido em Portugal em 1964, de tendência guerrilheirista. Destruído pela polícia em 1966.

LUAR (Liga de União e Acção Revolucionária) – grupo armado surgido em 1968, liderado por socialistas radicais. Dissolveu-se algum tempo depois do 25 de Abril.

ARA (Acção Revolucionária Armada) – destacamento criado pelo PCP em 1970, levou a cabo atentados e sabotagens à guerra colonial.

BR (Brigadas Revolucionárias) – braço armado do PRP (Partido Revolucionário do Proletariado), de tendência anarquizante, actuaram no início dos anos 70.

 

Carta a PA (7)

Francisco Martins Rodrigues

Cartas a PA – 7

6/3/1987

 Caro Camarada:

Recebemos a tua carta, assim como o manifesto do Revolutionary Communist Group, que agradecemos. Ficámos decepcionados, porque é um grupo muito pró-soviético. Tínhamos esperança que houvesse algum novo grupo marxista-leninista revolucionário por aí, mas ainda não é desta…

As tuas dúvidas e preocupações perante a linha de orientação da “PO” são naturais mas parece-nos que resultam de um erro de base da tua parte: receias que se critique aquilo que, apesar de tudo, ainda aparece mais à esquerda. Mas talvez não tenhas em conta que, sem essa crítica às inconsequências da chamada corrente marxista-leninista, não se conseguirá fazer surgir uma corrente de ideias e de acção sólida e ofensiva. A nós parece-nos que o declínio da corrente M-L se tem acentuado nos últimos anos, precisamente porque se proibiu toda a crítica aos erros. Foi por não querermos acabar no oportunismo, como aconteceu à maioria dos antigos dirigentes do PC(R) e como está a acontecer com a UDP, que decidimos investigar as origens do revisionismo. E isso passa obrigatoriamente por uma crítica a Staline. Os Kruchov & Cª não poderiam ter feito o que fizeram na União Soviética e no movimento internacional se o terreno não tivesse sido adubado antes pela política de compromissos de Staline. Vamos continuar a debater o problema, em espírito revolucionário, e esperamos que virás a reconhecer a utilidade do caminho que encetámos.

Sobre a tua vinda aqui: estou ao corrente dos teus problemas, mas supus que já tivesses sido abrangido por uma amnistia e já não houvesse esse impedimento. Não sendo assim, é pena que não possamos discutir de viva voz e confrontar as nossas ideias.

O B encontrou-se aqui comigo há um ano, mas não soube mais notícias dele. Vou escrever-lhe brevemente, até para saber como está de saúde.

Ficamos à espera da “New Left Review”, que nos é útil para compreender a evolução de certas correntes marxistas reformistas. Se tiveres oportunidade de nos enviar qualquer outro jornal ou revista daí, será uma boa ajuda para nós.

Agradecendo os teus votos de bom trabalho, aceita um abraço